Tudo era paz. O dia ainda não havia começado, mas faltava pouco tempo para que se iniciasse mais uma longa manhã na cidade grande. As ruas estavam desertas, e a pouca luminosidade que os postes desgastados causavam sugeria que esta fora uma noite misteriosa, encharcada nas incertezas e questões da vida.
Ninguém ousava estar nas ruas naquela hora, somente aqueles que buscavam um segundo interesse, muitas vezes ilícito. Mesmo assim, um silêncio assustador imperava, que só era interrompido pelo latido dos cães que assustavam com a própria sombra, ou pelo som dos carros do centro da cidade.
Uma paisagem muito bonita se conseguia da favela se olhada de cima, as casas pouco acabadas formavam um labirinto profissional, que só poderia ser transposto por aquele que o conhecesse. Era mais uma noite comum naquela favela da cidade, numa dentre tantas outras que existem por lá.
Mas, de repente, toda a calmaria e a rotina foi quebrada com o ardido sonido da sirene do carro da polícia, que parecia ter flagrado algo incomum. Aos poucos, surgira a imagem daquele rapaz correndo, enquanto a polícia o seguia ferozmente. Ele não parecia ter muita idade, e nem aparentava ser alguém que fizesse o que é errado.
Conforme os seus pés agitavam rapidamente, um poeirão levanta-se naquelas ruas não asfaltadas. Suas sombra passava pelas janelas daqueles barracos tão ligeiramente que os desapercebidos diriam que era um fantasma. Suas pernas eram rápidas e, aos poucos ele alcançava a distância que queria.
Ele fora se embrenhando naquele emaranhado de paredes, portas e janelas, quase se tornando um com aquele ambiente. Os policiais, então, desceram do carro, e voltaram a persegui-lo, mas agora a pé. Era tudo o que ele precisava para ganhar maior distância e despistá-los.
Ele já estava cansado, mas lutava contra o próprio cansaço, como se a liberdade corresse dele e ele tivesse que alcança-la numa corrida de obstáculos. Quando ele virava o seu rosto para trás, já não enxergava mais aqueles que o buscavam, mas, mesmo assim, ele não parava de correr.
Até que, enfim, ele reconheceu onde estava: perto da antiga casa onde a sua avó morava, que mudara recentemente para uma casinha um pouco melhor em outra comunidade, ao lado desta. Ele não pensou duas vezes, correu em direção àquela casa, até que encontrou-a. Ficou ali, sentado na laje, esperando o tempo passar.
Seu coração parecia querer explodir, sua respiração estava muito ofegante, seu rosto molhado de suor. Ele estava cansado. Cansado de ter esta vida tão difícil, de ter que trabalhar tanto para receber um salário tão pequeno. Nesta noite, os policiais confundiram-no com um traficante e ele teve de fugir: não teria como explicar que ele não era traficante!
De repente, ele reparou que sol começava a nascer. Ah, ele já havia esquecido de paisagem linda se alcançava da laje da casa de sua avó. Bem ao longe estava o mar, a praia e as luzes dos carros que passavam na avenida, lá ao longe.
O sol, aos poucos, mostrava o seu brilho. Ah, como era lindo o sol! Mostrava-se tão justo, brilhando sobre todos, ricos e pobres, livres e escravos, justos e injustos. Mas, justiça? Onde? Toda sua vida ele sofrera a discriminação e o preconceito, nem mesmo quem deveria estar ao seu lado não estava.
Ah! Como ele queria que brilhasse sobre ele o Sol da justiça, que trouxesse à luz as verdades, e pudesse expor aqueles que se diziam tão certos, somente por terem melhores condições, ou por serem influentes. Quem estava ao seu lado? Quem se importava com ele. Então ele lembrou-se do que sua mãe dizia:
“Meu filho, seja honesto e viva da maneira correta. Mesmo que ninguém te dê valor, e mesmo que discriminem, seja aquilo que é certo. E não se esqueça do que a Bíblia nos diz:
‘Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o Sol da Justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos na estrebaria’. Malaquias 4:2”
Uma nova esperança nasceu em seu coração: tudo passará pela Justiça que vem do alto. Ah, o sol da Justiça nascera em seu interior para sempre brilhar. E uma paz inexplicável ele passou a sentir. Ah! Os olhos de Deus estão sobre todos, atentos à oração do aflito, pois somente Ele é o Redentor, e somente em Seu nome há salvação, paz e justiça.
Ah! Como Deus é tremendo! Ele mesmo criou todas as coisas, e as usa para louvor de Sua glória. Ele sustenta todas as coisas pela Sua palavra: o céu, a Terra e o sol, e Ele mesmo é o Sol da Justiça que, quando brilha, salvação traz em Suas asas, salvação para todos aqueles que confessarem o Seu precioso nome.