As festas de fim de ano também se tornam especialmente desafiadoras para quem está vivendo um processo de luto. Segundo a psiquiatra Bianca Bolonhezi, CEO do Instituto Macabi, essa é uma época em que a dor costuma ganhar novas camadas. “O luto em dezembro é mais complexo porque entra em choque com o clima social de alegria obrigatória. Quando todos ao redor celebram, quem está em luto sente-se inadequado por não acompanhar a emoção coletiva. É um conflito silencioso e profundamente doloroso.”
O luto não tem ritmo previsível — e a chegada do fim do ano costuma intensificar memórias e sentimentos. Bianca explica que muitos pacientes relatam justamente em dezembro uma reativação da dor: fotos antigas, rituais familiares interrompidos, tradições que já não fazem sentido, e a presença simbólica das “cadeiras vazias”. “A dor se atualiza. E isso vale para perdas recentes ou antigas; ambas podem reaparecer com força nesse período.”
Para a especialista, acolher o próprio luto é essencial e não deve ser visto como fraqueza. “Luto não é algo que se supera como se fosse uma etapa a riscar da lista. Ele precisa ser integrado à história de cada um. Validar a própria tristeza é um ato de coragem — e uma parte fundamental da recuperação emocional.”