Greta foi corajosa.Uma menina com Síndrome de Asperge (um tipo de autismo leve) e que aos onze anos desenvolveu um quadro de depressão que a fez parar de falar e até de comer, sendo diagnosticada,ainda, com transtorno obsessivo-compulsivo é sim, muito corajosa.
Infelizmente essa coragem foi usada para que a menina, com uma face malcriada e de desprezo, fizesse um discurso muito raso sobre o meio ambiente na Organização das Nações Unidas.
Vamos falar aqui de sua mensagem, apresentada ao Comitê do Direito da Criança da ONU, nessa semana.
Greta disse, com tom apocalíptico e uma fala que lembrou bastante uma cena dramática de “Game ofThrones”, que nós, os adultos falastrões, “roubamos seus sonhos de infância, com nossas palavras vazias” e que “estamos entrando no início de uma extinção em massa”.
Concordo, nós possivelmente estamos. E de fato, nossas palavras são vazias, inclusive as de seu próprio discurso.Mas Greta ainda não sabe disso.
Em 1992, no Rio de Janeiro, aconteceu a ECO92, uma conferência mundial sobre desenvolvimento e meio ambiente. Já naquela década, o discurso sobre proteger o meio ambiente para as gerações futuras era a principal pauta. Então pergunto: Quem era a geração futura em 1992?
Éramos nós, esses mesmos que Grata acusou de “terem palavras vazias”.
Nós éramos, em 1992, a geração que dava o mesmo discurso de Greta, gritávamos sobre nosso futuro apocalíptico. E o que aconteceu conosco? Bom, nós crescemos!
Crescemos e encontramos os boletos para pagar, a necessidade de emprego, uma família para sustentar e dar conforto. Nós, hoje, encontramos a nossa realidade que não enxergávamos quando jovens, a realidade de que somos criaturas consumidoras e que buscamos conforto a todo custo.
Eu vou adorar ver Greta crescer. Ver ela ter que assumir seus compromissos da vida adulta, querer mobiliar sua casa (com madeira, pois seu país é frio), comprar seu carro feito com metais extraídos da terra e alimentar seus filhos com a proteína animal e grãos provenientes de grandes pastagens e áreas plantadas que substituirão as florestas.
Falar sobre meio ambiente é pop, é lacrador, é uma bolha fácil de se isolar para colocar a culpa no presente pelos problemas do futuro. Mas ninguém quer abrir mão do consumo e do conforto, nem no presente e nem no futuro.
Não ousarei dizer qual é a solução definitiva, até por que ela não existe. Mas também não ousarei colocar a culpa em alguém, pois nosso problema de relação com o meio ambiente não é uma questão de comportamento, mas sim de espécie. Somos racionais até a barriga roncar.
Para o discurso de Greta, eu só tive uma conclusão: Nós somos oque ela será amanhã. A questão é muito mais profunda do que um rostinho marrento, pois para além de colocar geração contra geração, nós precisamos de alternativas para tudo que é consumido.
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