Dificilmente os moradores atuais de Cordeirópolis e da Vila Nova Brasília têm conhecimento de tudo que se passou no local onde moram. Neste ano se comemora o centenário da iniciativa que marcou a história da cidade por muitos anos: a criação de um viveiro de mudas de amoreiras para alimentar o bicho da seda, que seriam utilizadas na indústria têxtil.
Em março de 1920 foi assinado um contrato que objetivava a instalação, no então distrito de Cordeiro, de uma fiação de seda, através da iniciativa do industrial suíço Emil Schlaepfer, beneficiado com incentivos fiscais por parte da Prefeitura de Limeira, cidade à qual o distrito estava subordinado.
O objetivo das negociações era permitir a instalação de uma fábrica no prazo de dezoito meses e que geraria cem empregos. Estava planejada a construção de cinco prédios, com área total de 2.500 m2 e para isso tinha sido adquirida uma área de 10 alqueires e assinado um contrato para a implantação de um viveiro com 50 mil mudas de amoreiras pretas.
A imprensa estadual destacava o pioneirismo deste estabelecimento industrial, que seria seguido por outro em Campinas, e haveria instalações vinculadas em Cosmópolis, à época distrito de Campinas. Problemas com a aquisição de terras em Cordeiro, principalmente, foram adiando o sonho para muito tempo. Somente dois anos depois é que a compra das terras foi feita de forma definitiva.
Nada mais aconteceu após este período: as instalações da Indústria de Seda Nacional, proprietária do local, foram inauguradas em Campinas em maio de 1924, bem como outros locais em Rio Claro. Cordeiro ficou com o “Instituto de Sericicultura”, que tinha por objetivo a reprodução e criação de ovos do bicho da seda.
Não conseguimos identificar, nos documentos consultados, o que ocorreu nos anos seguintes, mas em 1930, há 90 anos, o jornal “O Estado de São Paulo” sinalizava que a empresa Fioseda, de Cordeiro, era uma das “três fiações de certa importância” no Estado de São Paulo, mas segundo o mesmo jornal, sobreviviam com dificuldades, dependendo de verbas públicas.
Na década de 1940, a sericicultura se expandiu para outros locais do Estado e a estrutura criada em Cordeiro não tinha atividade relevante e foi desapropriada pelo Governo do Estado. Quando a administração estadual decidiu vender estas propriedades, os políticos locais se mobilizaram para uma solução alternativa.
Em 1954, a classe política local conseguiu a doação de uma área situada na Rua Carlos Gomes, dentre a atual Rua Guilherme Krauter e a Rua 13 de Maio, que seria loteada para “diminuir o problema habitacional da cidade”. Em frente à Praça Comendador Jamil Abrahão Saad (que àquela época se chamava João Pessoa), ficou definido que os lotes seriam vendidos a pessoas jurídicas.
Neste local se instalaram a S.D.R. Nosso Clube, depois sucedido pelo Cordeiro Clube, em terreno revertido à Prefeitura em 1962; o Banco Central dos Municípios, que faliu fraudulentamente na década de 1960, prejudicando muitas pessoas; a casa do Dr. Luiz Cardinalli, praticamente o único médico da cidade, fora os profissionais que atendiam nos postos de saúde, onde agora é um estacionamento; a Cooperativa de Consumo, que depois se tornou um supermercado, o escritório do advogado Dr. Antonio Luiz Cicolin, ex-vereador e ex-presidente da Câmara e criador do primeiro Regimento Interno do Legislativo e uma agência bancária, isto já no fim da década de 1960.
No fundo da área loteada, decidiu-se abrir uma rua nova, que em 1955 foi denominada Presidente Vargas. Ainda assim, restava umagleba de quase 300 mil metros quadrados, onde estavam plantadas amoreiras e havia outras construções, mas que há muito tempo não tinham relevância econômica.
Através de negociações políticas entre a administração municipal e o Governo do Estado, foi autorizada, em 1957, a doação desta área à Prefeitura de Cordeirópolis, para realização de um grande loteamento habitacional. Em 1960, portanto há 60 anos, foi autorizada uma modificação nesta lei, para permitir “indústrias, construção de próprios municipais ou estaduais e doação a entidades de fins culturais, esportivos ou beneficentes e indústrias que desejem ampliar-se ou instalar-se no município”.
Durante a década, o bairro foi sendo povoado e se tornou, com o tempo, um dos mais tradicionais da cidade. Somente em 1968, através da Lei nº 555, a denominação oficial – Loteamento da Prefeitura Municipal de Cordeirópolis – foi substituída por Vila Nova Brasília, e que compreendia legalmente “a área urbana abrangendo as Ruas Presidente Castelo Branco, Dr. Huberto Levy, Aita B. Dias, Laurentino Fonseca e as Ruas 3, 4, 5 e 8, prolongamento da Rua Carlos Gomes e Avenida Presidente Vargas, a contar da Rua Aita B. Dias.”