Neste mês de novembro lembramos os 50 anos do falecimento do vereador Vilson Diório, cujo nome foi dado à antiga Avenida Cascalho no final do ano em que este fato ocorreu. Segundo o volume intitulado “Expo Nacional dos Municípios”, publicado entre 1973 e 1974, Vilson Diório nasceu em Rio Claro em 4 de abril de 1934, filho de Nicolino Diório e Anna Ansanello Diório. Era contador da empresa Papirus, formado pela Organização Escolar Alem de Rio Claro e administrador de empresas pelo ISCA de Limeira.
Foi vereador na quarta, quinta e sétima legislaturas até seu falecimento: entre 1961 e 1965, 1965 e 1969 e 1973 e 1974. Ocupou o cargo de 2º Secretário nos anos de 1964 e 1966 e 1º Secretário nos anos de 1965, 1967 e 1968, bem como no biênio 1973-1974 até seu falecimento, em 19 de novembro deste ano.
Durante seus mandatos, aprovou duas leis: uma que concedia auxílio financeiro ao Clube Atlético Juventus, em 1963 e no ano seguinte, outra que concedia auxílio financeiro ao Clube Princesa Izabel para compra de um amplificador de som.
Nas suas legislaturas da década de 1960, preocupou-se principalmente com as Vilas Barbosa e Pereira, que estavam próximas ao seu local de trabalho, pedindo a implantação de iluminação pública e rede de esgotos, bem como a situação do “muro de arrimo” na lateral da Avenida Cascalho, que após o seu falecimento, passou a ter o seu nome, em especial na Vila Barbosa.
Como profissional da área contábil, posicionou-se pela necessidade de criação de uma “Escola Técnica de Comércio” na cidade, que não se efetivou. Também foi o único a pedir oficialmente a construção de uma quadra de basquete na cidade, sendo que somente a Escola Coronel José Levy e, posteriormente, a Escola Jamil Abrahão Saad, contavam com este equipamento.
Em seu primeiro mandato, preocupou-se com a situação da Represa de Cascalho, que ainda aquela época enviava água sem tratamento para Limeira e Cordeirópolis, pedindo a proibição da pesca para manutenção da qualidade do líquido que era fornecido à população naquele momento, sem tratamento e no máximo com aplicação de produtos químicos eventuais, geralmente quando havia epidemia de doenças contagiosas.
Depois de não se reeleger para a legislatura de 1969 a 1973, continuou exercendo suas atividades profissionais na empresa situada na avenida que hoje leva seu nome, até que retornou ao Legislativo com sua vitória na eleição de 15 de novembro de 1972, desta vez na oposição ao governo municipal de José Alexandre Celoti.
Com a cidade modificada, passou a se preocupar com outros assuntos importantes naquele período, e que tiveram solução anos depois de seu falecimento: a necessidade de melhoria e pavimentação na Estrada Cordeirópolis-Cascalho, ou seja um trecho da atual Rodovia Constante Peruchi (SP-316), que só tinha calçamento em paralelepípedo no trecho da avenida que levou o seu nome.
Também se preocupou com o antigo viaduto da Rua Toledo Barros, que originalmente não previa espaço para pedestres, pedindo a implantação de passeios por onde pudessem passar para se dirigir aos bairros da Zona Norte e da Zona Leste da cidade. Como sabemos, a implantação da sede própria do Ginásio, depois Colégio Estadual de Cordeirópolis, se deu em prazo recorde durante o final da década de 1960 e início da década de 1970, mas há cinquenta anos as ruas no seu entorno ainda não eram asfaltadas, o que foi um dos pedidos feitos por ele neste biênio. Também solicitou uma geladeira e um relógio no Posto de Saúde, que naquela época já deveria estar ao lado da Prefeitura, onde funcionou por muito tempo a Câmara e que agora se encontra subutilizado.
Neste período também foi autor de uma indicação para estabelecimento de um plantão de farmácias, o que só foi conseguido alguns meses depois, sistema que vigorou até pouco tempo, quando foi extinto por determinação do Governo Federal. Vale lembrar que um dos membros da sua bancada era David Alves de Oliveira, presidente da Câmara no período 1975-1976 e que foi, por muito tempo, proprietário de drogarias.
Também naquele período havia o problema do tráfego elevado de veículos na Rodovia Washington Luiz (SP-310), além do fato de não haver o atual Viaduto Moisés Tocchio, concluído a partir de 1978. Por sua indicação, ele pede melhorias no trevo de entrada da cidade.
No ano em que faleceu, a atividade do vereador Vilson Diório foi bastante relevante: solicitou, através de indicações, a pavimentação do último trecho da Rua Siqueira Campos, no Centro; a instalação de um telefone público no Bairro do Cascalho, num momento em que ainda não tinha sido implantada a telefonia automática.
Pediu também ao Governador do Estado a elevação da categoria da Delegacia de Polícia de 5ª para 4ª classe, que só foi conseguida durante a década de 1980 e a destinação de uma viatura para a Polícia Civil, retrato da precariedade em que se encontravam as forças policiais na cidade naquele período. Também foi solicitada uma ambulância, já que a cidade nunca contou com atendimento adequado na saúde, tendo que depender de transporte para as cidades da região.
Retomou sua luta da década passada, desta vez pedindo gestões ao SESC ou ao SENAI, para a instalação de um Colégio Técnico Industrial na cidade, baseado no fato de que todas as cidades vizinhas, com exceção de Santa Gertrudes e Iracemápolis, já contavam com estes estabelecimentos de ensino, para onde os estudantes da cidade tinham que se dirigir para continuar seus estudos no ensino médio daquela época.
Preocupou-se também com a necessidade de construção de vestiários no Campo do Cascalho, que tinha sido implantado no final da década de 1960, e que só na década de 1980 recebeu o nome atual – Estádio Municipal Geraldo de Souza Barboza. Da mesma forma como tinha feito anteriormente, sugeriu a pavimentação da Estrada Cordeirópolis-Santa Gertrudes, obra concluída no inicio da década de 1980 pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem), com recursos do Governo do Estado.
Voltando ao fato que nos interessa em particular, a 20ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Cordeirópolis, prevista para se realizar em 19 de novembro de 1974, contava com a presença dos vereadores Dr. Cássio de Freitas Levy, Bernardino Gumercindo Botechia, Carlos Tomazella, José Jorente, Luiz Beraldo, David Alves de Oliveira e Geraldo Bertanha.
Esteve ausente por motivos de saúde daquela sessão o então vereador Elias Abrahão Saad, posteriormente Prefeito Municipal por três mandatos (1977-1982, 1997-2000 e 2001-2004), único membro daquela legislatura ainda vivo, conforme mostram os registros digitalizados e disponibilizados no site da Câmara de Cordeirópolis.
No livro de presença daquele mês, a ausência do vereador Vilson Diório, então 1º Secretário, foi registrada com simples traços, e os registros das sessões posteriores, realizadas em 28 de novembro, constam em branco para ele e com as presenças de seu sucessor, José Luiz Buratti, falecido recentemente.
A ata da sessão onde se registrou o infausto acontecimento, mostra que ela estava prevista para começar às 19h30, sob a presidência do vereador José Jorente, sendo 2º Secretário o vereador Luiz Beraldo. Feita a chamada, havia sete vereadores presentes, a sessão foi aberta com número legal, foram discutidas e votadas as atas das sessões anteriores, que ocorreram em 5 de novembro e o Presidente, José Jorente, pediu ao Vice-Presidente, Carlos Tomazella, que assumisse a direção da sessão para que ele fosse atender ao telefone.
Em seguida, ocorreram os fatos descritos desta forma pelo secretário da sessão: “Decorridos alguns minutos, retorna à Mesa o Sr. Presidente, e de pé, com a voz embargada, encontrando muita dificuldade, comunica aos presentes que acabara de receber a trágica notícia do falecimento do vereador sr. Vilson Diório, dando por este motivo encerrada a presente sessão. Nada mais havendo a constar, o sr. Presidente mandou que se lavrasse a presente ata para constar dos trabalhos”.
O único órgão de imprensa existente na cidade, o “Jornal de Cordeirópolis”, que iniciara suas atividades em junho daquele ano de 1974, registrou em manchete “Lamentável acidente ceifa a vida de ilustre vereador”, com a foto de Vilson Diório. A edição do sábado, 23 de novembro, registrou que o vereador era também Presidente do MOBRAL e do Rotary Club local.
Segundo a reportagem “na fatídica data, acompanhava os proprietários da Papirus à Fazenda Campo do Atalaia, em Analândia. Quando chegaram àquela propriedade, pavoroso incêndio lavrava com tanta intensidade, acabando por devorar mais de 250 alqueires de plantação. Vilson, de formação e índole sempre pronto a prestar ajuda a quem quer que fosse, sem que ninguém pudesse notar, embrenhou-se pelas plantações em chamas, no afã de tentar exterminar o fogo abrasador.”
“Após várias horas de lutas incessantes e cansativas, reuniram-se os empregados da Fazenda vendo que não poderiam, de foram nenhuma, acabar com o sinistro, quando deram pela falta do sr. Vilson Diório. O seu corpo foi encontrado por volta das 18 horas carbonizado, o que transtornou a todos.”
Seu corpo foi trasladado para a nossa cidade, sendo velado em sua residência e posteriormente no edifício da Câmara Municipal, de onde saiu o cortejo fúnebre, às 13 horas da última quarta-feira [20], acompanhado por verdadeira multidão de amigos, todos ainda chocados e transtornados pelo ocorrido”.
Na mesma edição, foi publicado o Decreto nº 320, assinado pelo então prefeito José Alexandre Celoti, em que declarava luto oficial por três dias, a partir daquele dia, em homenagem ao saudoso homem público, que tanto batalhou pelas nobres causas de nossa terra. Nos considerandos, o prefeito destacava que a morte de Diorio vinha “cobrir de luto o coração do povo cordeiropolense, onde o extinto gozava de grande estima e admiração”; que Diório sempre revelou zelo, desprendimento, dedicação e amor pela causa pública, tanto como cidadão como no exercício de suas funções como homem público de nossa terra e que na qualidade de vereador por três legislaturas, diversas vezes demonstrou seu espírito de lealdade e amor à terra, transmitindo mensagens de fé, patriotismo e confiança nos destinos da Nação. Também foi decretado ponto facultatoivo nas repartições públicas municipais em função do fato.
O Jornal de Cordeirópolis mostrou, além da coluna assinada pelo futuro vereador e presidente da Câmara Milton Antonio Vitte, uma crônica intitulada “Adeus, Vilson!”, assinada por d. Maria Nazareth Stocco Lordello, com o conhecido pseudônimo de Silvia Helena.
Uma página completa da edição estampava o comunicado do falecimento do vereador, informando que uma missa de sétimo dia seria celebrada na Igreja Matriz de Cordeirópolis, na segunda, dia 25, às 19 horas. O anúncio era apoiado por tradicionais empresas da cidade: Comind, Posto Céu Azul, Cerâmica Beraldo, Torção Sanchez, Farmácia Coração de Jesus, Majestic Indústria de Refrigeração, Casa do Construtor, gerente e funcionários da CESP (Centrais Elétricas de São Paulo), Indústria e Comércio de Cereais Angélica, Churrascaria Barreirense, Torção Cordeiro, Cerealista São José, Cerâmica do Lago, Posto do Sobrado e Auto Escola Joia.
Mais empresas e cidadãos se associaram às homenagens: gerente e funcionários do Banco Itaú; Seda Tex e Tecelagem Cordeirópolis, Farmácia Santo Antonio, A Drogalar, Guina´s Bar, Irmãos Zanetti Ltda., Benefício São João, Uniscape e Máquinas Cordeiro, além do diretório muncipal do MDB, a Câmara e a Prefeitura Municipal, o Cascalho F.C., o C.A. Juventus, o Brasil A.C., o Rotary Club e o Clube da Amizade, a S.D.R. Princesa Izabel, a APM e o Centro Cívico do Colégio Estadual Jamil Abrahão Saad, o futuro prefeito e vereador José Geraldo Botion, além da firma onde Diório era Contador-Geral, Papirus Indústria de Papel S.A, naquela época de Cordeirópolis e Limeira.
Somente na quinta, 28 de novembro, em sessão extraordinária, foi feito um minuto de silêncio em homenagem póstuma, onde estiveram presentes todos os vereadores, inclusive o sucessor de Vilson, José Luiz Buratti. Na sessão ordinária do dia 3 de dezembro, mais homenagens foram prestadas: Foi feito um requerimento pelo então vereador David Alves de Oliveira, que solicitava a colocação no recinto da Câmara de fotografias ampliadas dos vereadores falecidos.
Em seguida, todos os vereadores assinaram requerimento de pesar pelo falecimento do vereador Vilson Diório, solicitando envio de ofício à família e que a prefeitura se encarregasse, após consulta aos familiares, do projeto e construção do seu túmulo no Cemitério Municipal de Cordeirópolis.
Também foi apresentado projeto de lei, de autoria do então vereador Carlos Tomazella, para alterar a denominação da Avenida Cascalho para Avenida Vereador Vilson Diório, desde o final da Rua Toledo Barros, na altura do viaduto, já que o homenageado trabalhava em uma empresa sediada neste local.
Este projeto recebeu pareceres favoráveis das Comissões de Justiça e Redação e Finanças e Orçamento, de forma verbal, e foi aprovado sem debates nesta sessão e novamente na sessão extraordinária, realizada a partir das 22 horas daquele dia. Por fim, a Lei nº 991 foi sancionada em 30 de dezembro de 1974, oficializando a alteração.