Nos últimos meses, a Câmara de Cordeirópolis vem colocando no seu site documentos antigos que estavam em seus arquivos e que foram digitalizados. Dentre os importantes achados, encontramos o Projeto de Lei nº 17/64, de autoria do então Prefeito Municipal, Dr. Cássio de Freitas Levy, que propunha criar o Brasão de Armas e a Bandeira do Município de Cordeirópolis.
No caso do brasão e da bandeira, já haviam se passado 25 anos do funcionamento do município e até aquele momento, a cidade não tinha seus símbolos próprios. Não sabemos se a iniciativa veio diretamente do Poder Executivo ou a cidade recebeu alguma “oferta” de profissionais da heráldica para a realização destas peças.
Em 21 de setembro de 1964, o Ofício nº 29/64, de lavra do então funcionário público José Geraldo Quintal (J.G.Q.), encaminhava ao então Presidente da Câmara, Jamil Abrahão Saad, o texto do Projeto de Lei que instituía os símbolos municipais.
Pela proposta, o Brasão de Armas e a Bandeira do município de Cordeirópolis estavam sendo criados com base no art. 195 da Constituição Federal de 1946, que dizia que eram símbolos nacionais a bandeira, o hino, o selo e as armas, sendo que os Estados e Municípios poderiam ter símbolos próprios.
O art. 2º do projeto descrevia o brasão a ser criado, que seria composto de “escudo português, com perle de goles em forma de Y”, ou seja, uma faixa vermelha; uma corrente com elos rompidos e um braço livre, uma cruz, chaminés e fios de tecelagem; a coroa mural, que representa as cidades; à direita do escudo, um pé de cana-de-açúcar e à esquerda, um ramo de café frutificado. Abaixo do escudo, haveria um listel, com as datas de criação do Distrito de Cordeiro e do Município de Cordeirópolis.
O inciso II do referido artigo explicava os motivos da escolha: o escudo português, de formato “clássico”, na cor prata, era de uso corrente na heráldica municipal brasileira, ligando o símbolo à descoberta e à colonização do Brasil.
A “perle de goles” seria uma peça heráldica representando as estradas, de forma triangular, “idealizando” os troncos ferroviário e rodoviário localizados no Município, através dos quais a cidade se comunicava com todos os pontos do território brasileiro, e este desenho dividiria o campo de prata do escudo em três partes, cada uma delas representando a liberdade, a fé e o progresso.
A corrente e o braço livre seriam feitos em vermelho e a corrente com os elos rompidos, que simbolizam a libertação dos escravos, relembrava que em Cordeirópolis, na
Fazenda Ibicaba, teria sido o primeiro lugar “a lançar com êxito a libertação dos escravos, na agricultura, substituindo o braço escravo pelo braço remunerado, grande movimento social do patrimônio histórico de Cordeirópolis”.
Esta versão se tornou corrente e é divulgada até hoje no ensino fundamental e médio, mas não corresponde à realidade, uma vez que, mesmo com a experiência de introdução de imigrantes europeus pelo regime de parceria, continuou a haver mão-de-obra escrava em conjunto com a mão-de-obra livre, sendo que à época da fundação de Cordeirópolis, a fazenda empregava 270 colonos, maiores e menores, de nacionalidades diversas, além de 320 escravos adultos, 136 crianças escravas e 27 libertos, conforme reportagem de um jornal da época.
Continuando na descrição da peça heráldica, a cruz, de cor verde, evocaria Santo Antonio, Padroeiro do Município, orago da Capela criada em 1886 e que foi elevada a Paróqua em 1901, portanto, há 120 anos, e simbolizava a “pureza e os sentimentos de nossa fé religiosa”.
Os “fios e conical”, na cor verde, representariam as indústrias têxteis e a chaminé, em vermelho, representaria todos os outros estabelecimentos fabris do Município. Conical era um artefato usado na indústria têxtil onde os fios produzidos eram enrolados. Os pés de cana-de-açúcar e de café assinalariam o principal produto agrícola do município e o produto básico da agricultura brasileira naquele momento, especialmente a do Estado de São Paulo.
A coroa mural, de cor dourada, é a representação nos brasões indicando de que se trata de uma cidade. Por fim, como acontece em brasões municipais, estão as datas da criação do Distrito de Cordeiro e do Município de Cordeirópolis – e não somente os anos, como o atual, em um listel que deveria ter a cor vermelha.
Quanto às cores, o prata representaria “a paz e a pureza sentimental do povo” cordeiropolense, o vermelho “a luta pelo trabalho e pelas árduas conquistas e anseios de seus habitantes”, o verde “a esperança e a pujança” dos habitantes e o ouro, a riqueza e a grandeza do Município devido a um “surto progressista”.
A bandeira proposta teria formato retangular, composta de três faixas em sentido horizontal, em tamanhos iguais, nas cores verde, amarela e vermelha, sendo que na central haveria duas estrelas, na cor verde, representando Cordeirópolis e o Bairro do Cascalho.
No processo disponibilizado pela Câmara, não há mais nenhum documento que comprove qualquer posicionamento por escrito do Legislativo daquela época com relação à proposta. Caso as atas da Câmara da legislatura 1961-1965 forem escaneadas e disponibilizadas no site do Legislativo, poderemos encontrar indícios sobre o que aconteceu com o projeto. Veja nesta publicação os modelos do brasão e da bandeira, desenhados por Brunno Coutinho, do perfil de Instagram “Escudos e Brasões”, por nossa solicitação.