Já analisamos
em artigo publicado há cinco anos, do ponto de vista municipal, as ações adotadas pela Prefeitura de Cordeirópolis para a construção e instalação do Ginásio Estadual de Cordeirópolis (depois Colégio Estadual e Escola Estadual Jamil Abrahão Saad), inaugurada em 15 de outubro de 1970.
Neste texto, vamos recuperar as informações no outro extremo: o Governo do Estado de São Paulo e os pontos relevantes da ação desta esfera de governo para que o objetivo final fosse alcançado.
Conforme vimos naquele texto, a entidade responsável pela construção da sede própria do Ginásio Estadual de Cordeirópolis foi a FECE (Fundo Estadual de Construções Escolares). De acordo com a Lei Estadual nº 5444, de 17 de novembro de 1959, foi criado o Fundo Estadual de Construções Escolares, “para atender à construção, ampliação e equipamento de prédios destinados a escolas de ensino público primário e médio do Estado”.
Este dispositivo foi regulamentado pelo Decreto nº 36.799, de 21 de junho de 1960, que determinava que o FECE deveria, dentre outras atribuições, elaborar programas periódicos de construções, acompanhados dos estudos de prioridades e acompanhar junto ao órgão construtor, a elaboração dos projetos e especificações, bem como a execução das obras.
A partir de 1966, segundo Mirela Geiger de Mello, o Fundo passa a executar obras escolares e, em dez anos de atuação, proporcionou a construção de 900 edifícios escolares em todo o Estado de São Paulo, sendo pioneiro no Brasil e na América Latina em seu ramo de atividade.
Segundo a autora, em tabela constante de sua dissertação de mestrado, o projeto do prédio da Escola Estadual Jamil Abrahão “Soad” (sic), foi concluído em 1967, através de contratação terceirizada do escritório de arquitetura de Sérgio Pereira de Souza Lima (Código FDE 05.43.101).
Conforme currículo reproduzido na dissertação de Cássia Buitoni, a esposa e sócia do arquiteto, Mayumi Watanabe de Souza Lima (1934-1994), foi responsável, dentre outros projetos, dos Ginásios Estaduais de Franco da Rocha, Auriflama, Guararema, Jaguariúna, Torrinha, Itirapina e Cordeirópolis.
Mayumi Watanabe nasceu em 5 de dezembro de 1934 em Tóquio, em uma família que participava de organizações culturais de esquerda. Chegou ao Brasil em 1938, no último navio que transportou imigrantes japoneses para o país.
Iniciou o curso de arquitetura em 1956 na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo, formando-se em 1960, casando-se depois com seu futuro sócio, o arquiteto e militante político de esquerda Sérgio Souza Lima. Foi estagiária do famoso arquiteto Villanova Artigas, de Joaquim Guedes e de Lina Bo Bardi. Fez mestrado a partir de 1962 na UnB (Universidade de Brasilia), onde foi professora assistente entre 1963 e 1965. Com a implantação do regime militar, retornou a São Paulo para trabalhar na Diretoria de Planejamento da FECE e entre 1968 e 1970 atuou no CEPAM, entidade que prestava assessoria técnica aos municípios. Foi Superintendente de Arquitetura e Organização da Consultoria de Arquitetos e Engenharia do PREMEN (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino), ligado ao Governo Federal.
Segundo sua biógrafa, Mayumi escolheu “a carreira anônima dentro de órgãos públicos como forma de atuar na construção de uma nova sociedade” Inicialmente filiada ao Partido Comunista do Brasil, filiou-se posteriormente ao Partido dos Trabalhadores (PT), conseguindo por isso participar da administração municipal de São Paulo entre 1989 e 1992, quando era prefeita Luiza Erundina, atualmente no PSOL.
Seu currículo de 1993, reproduzido na dissertação de Buitoni, cita expressamente em suas atividades profissionais a realização de “estágios e trabalhos de projeto desenvolvidos com outros arquitetos”, dente eles o desenho do Ginásio Estadual de Cordeirópolis, em conjunto com seu marido. Os projetos realizados foram chamados de “Padrão Mayumi e Sérgio Souza Lima”, nas cidades indicadas acima. A arquiteta faleceu em 23 de outubro de 1994, atropelada ao atravessar a Avenida Rebouças, em São Paulo.
Nestes dez anos de atividades do FECE, foram construídas 900 escolas estaduais, sendo que aproximadamente 230 arquitetos elaboraram projetos para o fundo, em função da explosão da demanda de vagas na área educacional e ampliação da rede física de ensino em larga escala.
Em 10 anos, segundo Mirela, foi construído o equivalente a 40% do que tinha sido construído nos 75 anos anteriores, onde se inclui o Ginásio Estadual de Cordeirópolis. O chamado “tipo ginásio estadual” tinha como componentes do projeto salas de aula, artes plásticas, práticas comerciais, educação doméstica, artes industriais, práticas agrícolas, recreio coberto, sanitário e vestiário feminino e masculino, cozinha, cantina e despensa única, depósito de material de educação física, grêmio, secretaria, sala de diretor, sala de serventes, de professores, material didático e depósito.
A autora do projeto do então Ginásio Estadual de Cordeirópolis, segundo Cássia Buitoni, fazia parte de um “grupo de arquitetos que acreditava que o país caminhava para o socialismo e estava empenhado em propor formas de atuação que contribuíssem para a construção desta nova sociedade”.
O Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE) foi extinto em 1975 e sucedido pela CONESP (Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo). Esta empresa estatal também realizou obras nos estabelecimentos de ensino estaduais em Cordeirópolis, como a “construção e galpão e demais dependências para oficina de ensino profissionalizante”, junto à Escola Estadual Jamil Abrahão Saad, transformada posteriormente em um auditório.
Bibliografia:
BUITONI, Cássia Schroeder. Mayumi Watanabe Souza Lima: a construção do espaço para a educação. Dissertação de mestrado FAU-USP. São Paulo, 2009.
MELLO, Mirela Geiger de. Arquitetura escolar pública paulista: Fundo Estadual de Construções Escolares – FECE 1966-1976. Dissertação de mestrado FAU-USP. São Paulo, 2012