De maior rede social do mundo, o Facebook deverá se transformar no maior cemitério do planeta. A continuar a rápida debandada dos Milenials e companhia para redes sociais mais instantâneas e descoladas, como a chinesa Tik Tok, não demora muito e o todo-poderoso mundinho azulado terá mais contas de mortos do que de vivos.
O problema para o Markinho Zucker é tão grande que já virou tópico da Central de Ajuda do Face. Pode conferir: https://www.facebook.com/help/contact/651319028315841. Há instruções detalhadas para requerimento e manutenção de memoriais, sendo necessário inclusive que a família nomeie um administrador do jazigo.
O fato dá margem para mil elucubrações. No Dia de Finados, por exemplo. Já parou para pensar? Pop-ups e banners pipocarão insistentemente pelas telas oferecendo buquês de flores virtuais para adornar os memoriais dos entes queridos. Arquitetos, decoradores e escultores se oferecerão para redesign dos túmulos de pixels. Profissionais de marketing certamente irão propor pacotes de estatísticas de page-views e infinitas outras métricas e gráficos comparativos, para mostrar quantos visitantes deram uma paradinha, rezaram um terço ou fizeram reverência ao defunto.
Ao invés de modem de um lado do monitor e caixinha de Alexa do outro, duas grandes velas de sete dias em intenção do(s) morto(s) adornarão os desktops.
Dar fim aos restos materiais seria o de menos. Talvez bastasse embalar o presunto em saco plástico de lixo e despejar na lixeira, à espera do caminhão de limpeza pública. O importante mesmo seria o ritual virtual – que, não é de hoje, virou mundo real. É ali que se concentrariam as atenções. É ali que se trabalha, que se diverte, se namora, se casa, se vive e se morre. É ali que a vida – e a morte – acontecem.
Guardadas importantes diferenças entre um fenômeno e outro, o processo lembra o que demograficamente vem ocorrendo no Japão: basta mais uma geração para que a população do país se reduza à metade, ou mesmo desapareça. A explicação é simples: os novos casais nipônicos, quando têm filhos, decidem pelo herdeiro único. Isso já acabaria com 50% do plantel humano em apenas uma geração, já que de dois resultaria um. Só que o problema tende a ser ainda pior, pois os jovens por lá estão optando pelo celibato, satisfazendo-se solitariamente com bonecas e bonecos infláveis. Se a moda pega pra valer e vira padrão, em coisa de 50 anos não sobra um japonês para contar a história. Sem reprodução, a geração atual seria a derradeira. Sorry, japonezada. A ameaça é triste mas é real.
Mas, voltando ao Facebook, ou ao futuro book dos defuntos: o bom e velho Mark, que recusou centenas de bilhões de dólares para vender seu Facebook há dez anos, da noite para o dia acordará com sua fortuna valendo um milésimo do que valia ainda ontem, pois um cemitério não é formado por consumidores. Um book de faces vivas vale muito mais do que um book de faces mortas.
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