Parece inacreditável, narrando o fato após acontecido, que a tal da nuvem pudesse se tornar tão grande a ponto de ser vista de qualquer lugar do mundo.
Testemunhas, da Indonésia ao Alasca, atestando juízo perfeito – mão sobre a Bíblia, voz firme perante o meritíssimo, juraram ter sido atingidas por megapixels cadentes, maiores que meteoros. Em questão de minutos a nuvem foi ficando cinza, depois chumbo, depois negra. Vergando à própria imensidão, não se sustentava mais lá em cima nas condições normais de temperatura e pressão atmosférica.
Com trilhões de hectares e peso sem estimativa confiável, a coisa foi cedendo e se abrindo em trincas que mais pareciam as fendas do Grand Canyon. E desses inchaços rompidos caíam, de volta para a humanidade, tudo o que ela mesma foi enviando irresponsavelmente lá pra cima, como se a nuvem fosse uma tulha ou almoxarifado que triplicasse de tamanho a cada meia hora.
Recibos de contas de água e protocolos de exames de tireoide se misturavam a terabytes de acervos digitalizados da Biblioteca de Washington, nudes com receitas de tortas de pupunha, registros de rastreamento de pedidos da Amazon em redemoinho com playlists, cálculos estruturais de viadutos e podcasts em javanês.
Era a explosão, prevista por alguns e improvável para quase todos. Agora, não havia o que fazer nem tempo para lamentar. Restava catar o que caía e talvez redigitalizar, formando nova e, quem sabe, mais segura nuvem. Mesmo porque não havia mais lugar, em terra, para guardar tudo aquilo.
Os conteúdos publicados por colunistas ou visitantes no Portal Cordero Virtual não expressam a opinião do Portal Cordero Virtual, sendo de responsabilidade de seus autores.
Clique aqui e veja os Termos e Condições de Uso do Portal Cordero Virtual.