Para os humanos, tempo é o recurso mais precioso. Para nós, deuses, este mesmo e valorizado tempo não quer dizer nada. Pairamos além dele e de seus efeitos.
Se há milênios nos tornamos mitos, certamente não foi por acaso. Temos autoridade e poderes que justificam a idolatria. Somos deuses e merecemos respeito. Independente de acreditarem em nós ou não, de nos renderem adoração ou não, o fato é que estamos muito acima de vocês, mortais.
Na Antiguidade dos terráqueos estivemos muito ativos, em Atenas e em Roma. Demos um cochilo para descansar e acordamos agora, naquilo que vocês chamam de século vinte e um, com tudo virado pelo avesso.
Os deuses Minerva e Phebo estão especialmente revoltados, e não é para menos. Minerva, a deusa romana da sabedoria, da guerra, das ciências e das artes, por ter se transformado, inadvertidamente, em detergente. Vendido a 1,49 em qualquer venda dos rincões tupiniquins.
Phebo, irmão gêmeo de Diana, o deus do sol e da luz, sem autorização foi rebaixado à condição de sabonete. Um bom sabonete, é preciso reconhecer, mas lançado no mercado sem que ao dono do nome se desse ciência, o que constitui crime.
Em resumo: vocês, humanos, estão fazendo dinheiro grosso utilizando nossa boa imagem. Ou, como vocês denominam atualmente, estamos – sem autorização nossa – atuando como influenciadores, ao emprestar involuntariamente nosso bom e honrado nome a produtos dos quais não conhecemos a fama e muito menos a qualidade.
Pode até ser que sejam bons, mas não fomos consultados e viramos, à revelia, avalizadores de farinhas de mandioca, automóveis e até preservativos – camisa de Vênus, lembram-se? Com que direito se apoderaram do nome de uma de nossas deusas mais conhecidas para batizar um produto tão chulo e de duvidosa eficácia?
Sim, humanos, vocês devem inúmeras respostas às nossas perguntas. Um pouquinho mais de sono e teríamos acordado no século vinte e dois, e as respostas teriam que ser dadas por seus netos, não por vocês. Façam alguma coisa. Deuses nervosos são um perigo.
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