Naquela quarta, se bem me lembro, desci os degraus de quatro em quatro e me enovelei ao porão mofado.
Ursos sem as tripas, de olhos de vidro e pelúcias puídas, me olhavam medrosos em sua ciranda, palitando os dentes com agulhas de vitrola.
O tufão das sombras velhas abria as tampas dos baús, violentando o sono eterno das ausências. E todo o tempo sem volta bailava ali sua valsa e me tirava pra dançar, reduzindo a obra de Deus a três compassos de Tchaikovsky.
Boiando para adiar a morte, via a ponta do meu nariz quase encostando no que ao mesmo tempo era o teto daquele antro de cupins e o assoalho da casa.
Era questão de tempo. Eu viraria o porão de mim.
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