Há oito anos, um professor de matemática da cidade de Suzano decidiu transformar o aprendizado de matemática em arte e tem mostrado que números, fórmulas e formas podem encantar seus alunos, acender a paixão pela disciplina e transformar suas realidades. Engenheiro mecânico de formação, Marco Antônio da Fonseca decidiu complementar os estudos com a licenciatura em matemática, foi aprovado em concurso público da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) e desde 2017 está à frente das aulas de matemática da Escola Estadual Jacques Yves Cousteau e do projeto “Esculturas com Palitos de Sorvete”, que transforma esses pedaços de madeira e cola branca em reproduções de até dois metros de altura.
A iniciativa, segundo o professor, é uma ponte entre alunos e escola, uma maneira lúdica e concreta de fazer com que a matemática — tradicionalmente temida — ganhe vida e formas. O resultado dessas construções, que já utilizaram mais de 80 mil palitos ao longo de oito anos, está agora em exposição em um shopping na cidade de Suzano até o próximo dia 7 de maio. No local, o público poderá participar de oficinas conduzidas por Marco e os 32 alunos que integram o projeto atualmente, com apoio de ex-estudantes que seguem ligados a Marco e à escola. O link para inscrição para as oficinas está disponível no site do shopping.
Entre as obras criadas pelos estudantes e expostas estão uma torre Eiffel, um carrossel, um barco viking motorizado e até um robô montado com mais de 300 formas geométricas. Todas as peças foram montadas com apoio do aprendizado de matemática, geometria e física, disciplina que também é lecionada pelo professor da rede. “Desde o início do projeto, o aluno já precisa usar régua, trena e escala. Trabalhamos ângulos, simetria, divisão do círculo, conceitos de resistência mecânica. É um aprendizado completo, na prática, com contexto”, explica Marco, que leciona à noite para estudantes do Ensino Médio.
Mais do que ensinar equações e geometria, o projeto traz aos estudantes a sensação de pertencimento. “Eu sou muito feliz na escola”, diz o professor de 54 anos, que também é gestor industrial. Desde que entrou para a rede estadual, em 2017, usa seus conhecimentos técnicos para criar novas maneiras de envolver os alunos do período noturno — muitos deles trabalhadores que chegam cansados após uma jornada intensa. “Esse projeto resgata o prazer de estar na escola”, resume.
Foi o que aconteceu com a aluna Ketellyn Vitória dos Santos Xavier, de 16 anos. “Matemática nunca foi meu forte, mas com o professor Marco tem sido diferente. Participar do projeto me ajudou a vencer a timidez, melhorar minha comunicação e pensar no meu futuro profissional”, conta. Ela está empolgada com a exposição: “É gratificante mostrar o nosso trabalho para outras pessoas.”
O impacto do projeto vai além da sala de aula. Guilherme dos Santos Macedo, hoje com 22 anos, foi um dos primeiros alunos de Marco, em 2018. Atualmente aluno da Fatec e formado em um curso técnico de mecânica industrial, Guilherme afirma que as carreiras foram diretamente influenciadas pela atuação do professor e o projeto de esculturas. “A gente aprendia na prática: cálculo, medidas, geometria, física. E além disso, criamos amizades, aprendemos a trabalhar em equipe. Até hoje eu volto para a escola sempre que posso. O projeto mudou a minha vida”, afirma.
Durante a exposição no shopping, o público poderá participar de três tipos de oficinas. A primeira é o jogo EtnoArtMat, criado à distância durante a pandemia pelos professores e seus alunos, com dados numéricos feitos de palitos e foco em operações matemáticas. Na segunda atividade disponível, os participantes poderão construir uma pequena peça a partir de desenhos técnicos. Já na terceira, cada participante receberá 100 palitos e o desafio de criar livremente, com apoio de pregadores de roupa — tudo guiado por alunos e ex-alunos do projeto.
A mostra é gratuita e funciona das 10h às 22h, até o dia 7 de maio. A participação nas oficinas pode ser agendada pelo site oficial do shopping.
Durante o ano letivo, as peças ficam expostas no pátio da escola Jacques Yves Cousteau. O professor conta que os materiais para a escultura vêm de várias fontes: “São comprados pela escola e também já fizemos, ao longo dos oito anos de projeto, parcerias com sorveterias, farmácias e empresas da cidade. Os próprios alunos e professores da escola trazem os palitos. Às vezes a gente nem sabe quem doou porque a pessoa deixa os palitos perto do local das esculturas na escola”, finaliza.