Com o aumento da dependência de dispositivos eletrônicos no cotidiano, cresce também uma preocupação relevante na área da saúde: a interferência da luz azul, emitida por telas de celulares, tablets, computadores e até lâmpadas LED, na qualidade do sono.
De acordo com dados da pesquisa Digital 2023: Global Overview Report, compilados pela plataforma Electronics Hub, os brasileiros passam, em média, cerca de nove horas por dia em frente a dispositivos eletrônicos – o equivalente a 56,6% do tempo acordado.
Entre os 45 países analisados, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial, atrás da África do Sul. Estudos apontam que essa exposição, especialmente durante a noite, tem consequências diretas na produção de hormônios responsáveis por regular o ciclo biológico.
O que é a luz azul e por que ela afeta o sono?
Em resumo, é um tipo de luz com comprimento de onda curto e alta energia. Ela está presente na luz solar e é benéfica durante o dia, por estimular a atenção, o humor e o estado de alerta. No entanto, quando consumida de forma artificial à noite, essa mesma luz pode prejudicar.
De acordo com pesquisas da Harvard Medical School, 13 minutos de exposição à luz azul à noite são suficientes para reduzir em até 50% a produção de melatonina. Esse dado é alarmante, em decorrência do contexto em que o uso de dispositivos eletrônicos no período noturno se tornou comum.
A influência direta nos ciclos de sono
O Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e AVC dos Estados Unidos explica que o sono é fundamental para o bom funcionamento do cérebro, além de ajudar na comunicação entre neurônios, na consolidação de memórias e nos processos de regeneração do organismo. Quando a produção de melatonina é inibida pela luz azul, o relógio biológico – também conhecido como ritmo circadiano – se desregula, dificultando não apenas adormecer, mas também manter um sono profundo e restaurador.
O problema é agravado pelo fato de que o uso excessivo do celular à noite pode reduzir o tempo de sono REM – sigla para Rapid Eyes Movement, ou movimento rápido dos olhos, em português – para apenas 10% do ideal. Esse estágio do sono é importante para a regeneração celular, incluindo a saúde da pele e dos cabelos, como destaca a engenheira química e cosmetóloga Sônia Corazza.
Entenda o papel da melatonina na saúde do sono
A
melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal que ajuda a regular o ciclo sono-vigília. Quando o ambiente escurece, a produção de melatonina aumenta, avisando ao corpo que é hora de dormir. No entanto, a exposição às telas durante esse período engana o cérebro, fazendo com que a liberação do hormônio seja adiada ou interrompida.
Essa interrupção afeta diretamente a qualidade do sono e, por consequência, a saúde. Segundo o Dr. Vitor Azzini, especialista em medicina personalizada, a privação de sono está ligada a diversas condições graves, como doenças cardíacas, depressão, diabetes tipo 2 e até câncer. “É também um dos maiores fatores de risco para a obesidade”, alerta.
Veja como reduzir os impactos da luz azul
Embora seja quase impossível evitar o contato com telas, existem formas de diminuir os efeitos da luz azul. Especialistas da Harvard Medical School indicam:
- Reduzir a exposição a telas brilhantes duas a três horas antes de dormir.
- Utilizar luzes de tons mais quentes e fracos à noite.
- Considerar o uso de óculos bloqueadores de luz azul.
- Expor-se à luz solar durante o dia para manter o relógio biológico ajustado.