A população brasileira acredita que há mais barragens em risco de rompimento no país e não confia nas leis para protegê-la de novos desastres, como o que matou 272 pessoas em Brumadinho, há 5 anos e 7 meses. Pesquisa inédita do PoderData, com entrevistas realizadas em maio deste ano, aponta que 74% dos brasileiros acreditam na existência de mais barragens em risco no país e 77% desconfiam da eficácia da legislação atual para evitar novas rupturas. Em Minas, onde está a maior parte das barragens em situação de alto e médio risco no país (46 das 158 no total) segundo a Agência Nacional da Mineração (ANM), a desconfiança em relação à proteção legal é ainda maior: 80% dos mineiros temem novas tragédias.
Responsabilidade pela tragédia
A pesquisa apontou que 69% dos brasileiros já ouviram falar na tragédia de Brumadinho, que até hoje não teve os responsáveis julgados pela Justiça. “Para nós, a falta de julgamento e responsabilização dos culpados por tragédias como a de Brumadinho facilita a prática de novos crimes. O precedente da impunidade torna o crime recorrente”, afirma a presidente em exercício da Associação dos Familiares e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho (AVABRUM), Nayara Porto, que perdeu o marido Everton Lopes Ferreira, de 32 anos, no rompimento da barragem.
Segundo o levantamento, para 59% da população, a mineradora Vale é a responsável pela tragédia, sendo que 38% acreditam que esta responsabilidade é compartilhada com a Tüv Süd, que deu o laudo falso de segurança da barragem, e com os órgãos públicos de fiscalização. As populações de Minas Gerais e de Brumadinho atribuem ainda mais responsabilidade à Vale pela tragédia (67% e 65% – somando quem respondeu apenas Vale e quem respondeu “todos os citados”).
Negligência e falta de fiscalização
Mais imersa nos problemas e impactos que existem por causa das barragens de mineração, a população de Minas Gerais aponta como principal causa da tragédia a negligência das empresas (38%) e, em segundo lugar, a falta de fiscalização pelo poder público (20%). Já a percepção geral no Brasil é inversa: a maior fatia da população do país (35%) afirma que a falta de fiscalização do poder público causou o rompimento em Brumadinho, seguido pela negligência das empresas (21%).
A avaliação sobre o que é necessário para que a Agência Nacional de Mineração (ANM) atue com mais eficiência na segurança das barragens também apresenta variação significativa no recorte regional. A população brasileira em geral – com menos contato direto com o tema – indica a contratação de mais pessoal como a maior necessidade (23% contra 6% nos recortes de Minas e Brumadinho). Já os mineiros e a população de Brumadinho em especial dão muito mais peso à necessidade de aplicar multas e punições maiores (45% e 44% respectivamente).
Atuação das famílias reconhecida
A atuação dos familiares de vítimas e atingidos pela tragédia nos processos e acordos de reparação é reconhecida pela população, em especial em Minas e em Brumadinho - 62% dos mineiros e 73% dos moradores de Brumadinho destacam o grupo como o que teve melhor atuação. Na sequência, prefeitos foram apontados com a melhor atuação por 13% dos mineiros e o Ministério Público por 14% da população de Brumadinho. Mesmo mais distante da tragédia, a maior parte da população do país (39%) também atribuiu aos familiares a melhor atuação nos processos e acordos, seguido por órgãos de justiça (13%).
“Esse reconhecimento nos estimula a continuar lutando por justiça para os 272 mortos em Brumadinho, e também pelos direitos dos seus familiares”, afirma Nayara Porto.
A pesquisa, realizada com o apoio do Projeto Legado de Brumadinho, ouviu 3.200 pessoas em todo país entre os dias 20 e 25 de maio.