Dentre as revistas antigas preservadas pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional encontramos “O Malho”, que foi definida de acordo com o CPDOC
da Fundação Getúlio Vargas como:
“Revista ilustrada de sátira política, que circulou no Rio de Janeiro por mais de meio século entre os anos de 1902 e 1954. A revista O Malho, publicada semanalmente, ficou famosa por suas charges e caricaturas que ironizavam a política nacional. Seu surgimento deveu-se ao caricaturista Crispim do Amaral, fundador e diretor artístico da revista. (...)
A partir de 1918, passou a ser dirigida por Álvaro Moreira e J. Carlos, mantendo-se como uma das mais prestigiosas revistas de crítica do país. Em 1929, O Malho colocou-se em oposição à Aliança Liberal, o que resultou, após a vitória da Revolução de 1930, em seu empastelamento. Sua redação foi incendiada e fechada. Após alguns meses sem ser editada, a revista retornou, porém sem o mesmo vigor em suas críticas, atravessando dessa forma a censura do Estado Novo. Em janeiro de 1954, deixou de circular.”
Disponibilizados os exemplares pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, fizemos pesquisas com o termo “Cordeiro” ou “Cordeiros”, como é de costume, e encontramos diversas citações, mas o inédito são as fotos de pessoas daquela época que moravam em Cordeiro que foram publicadas e que apresentamos logo abaixo neste texto.
A primeira referência está na revista “O Malho” de 1904, onde o consultório sentimental responde a “Alfredinho (Cordeiro)”: “se o cavalheiro ama com grande empenho essa moça e se crê que essa moça corresponde que “eu lhe tenho”, o melhor é não escrever versos nem nos mandar dizer isso: crie coragem e vá pedi-la ao pai, em sua casa, se ela é solteira, ou ao finado, no cemitério, se é viúva”. Será que o conselho seria útil atualmente?
A revista de 1905 estampa em suas páginas a foto do capitão José La Farina, “falecido a 13 de maio último em Cordeiros e que ali era muito estimado pelas suas qualidades”. Já tivemos oportunidade de abordar os vestígios de sua passagem em artigo publicados
neste site, que lembrava a inauguração da energia elétrica no então distrito de Cordeiro, em 1903.
São poucas as referências ao capitão, que em 1901, conforme o Diário Oficial da União de 28 de novembro daquele ano, compunha a 94ª brigada de infantaria da Guarda Nacional, ao lado de personalidades da elite limeirense da época: o comandante era o Tenente Coronel Belisario Leite de Barros, auxiliado pelo capitão assistente Flamínio Augusto de Toledo Barros e o tenente Antonio Custódio de Oliveira, com o capitão ajudante de ordens Humberto Ambruster e o major cirurgião-mor Dr. José Rodrigues Ferreira.
O 250º Batalhão de Infantaria era composto pelo Comandante, Tenente-Coronel Dr. Joaquim Augusto de Barros Penteado e pelo Major Fiscal Dr. Antonio Augusto de Barros Penteado, o capitão-ajudante era Antonio Pacheco, o tenente-secretário, Francisco Muniz de Mello, o tenente-quartel-mestre, Antonio Carlos de Lima e o capitão-cirurgião, Gustavo Rodrigues Dória.
A 1ª Companhia era composta pelo Capitão Antonio Egydio de Barros, como tenente o alferes José Maria de Oliveira e os Alferes Antonio Pinotti e Francisco Vaz de Lima. A 2ª Companhia era composta do Capitão Manoel Ferraz de Sampaio e do Tenente Vicente de Barros, bem como o alferes Manoel Pacheco de Carvalho (que foi titular do Cartório de Notas de Cordeirópolis por este período) e Francisco Ferraz Pacheco. Já a 3ª Companhia era composta pelo capitão Carlos Ambruster, o Tenente José Roque da Silveira e os alferes Joaquim Rodrigues de Oliveira e Antonio Soares da Vinha. A 4ª Companhia era composta do Capitão Joaquim Manoel Pereira, do tenente João Ferraz Pacheco e dos alferes Firmino de Almeida Barros e José Baptista de Oliveira Camillo.
O 251º Batalhão de Infantaria, também sediado legalmente em Limeira, era composto pelo Comandante Tenente Coronel Joaquim Leite do Canto, o major fiscal, Antonio Nunes dos Santos Monteiro, grande fazendeiro com propriedades em Cordeiro; capitão-ajudante João de Sampaio Barros, tenente-secretário Octaviano José Rodrigues, sendo a 1ª Companhia chefiada pelo Capitão José Levy (depois elevado a Coronel), o tenente José Francisco Prado e os alferes Antonio Ferreira Netto e Arthur Martins de Sampaio. A 2ª Companhia era composta pelo Capitão Theodoro Kuhl, como tenente o alferes Antonio Vicente de Abreu Sampaio e como alferes, BenedictoKuhl e João Barbosa de Pinho. A 3ª Companhia tinha como chefe o Capitão José La Farina, como tenente Oscar Ambruster, e como alferes Joaquim Franco de Moraes e João Gomes de Pinho. A 4ª Companhia era chefiada pelo Capitão Nicolau Leite do Canto e composta também pelo Tenente Joaquim de Castro e pelos alferes Luiz Nunes Ferraz e Floriano Cintra.
Havia também o batalhão da reserva, composto Major Luciano Esteves dos Santos, como Tenente Coronel Comandante e pelo Estado Maior composto pelo Major Fiscal Dr. Alberto Ferreira da Silva, capitão ajudante, tenente Ezequiel de Barros Silva, tenente secretário José dos Reis Sobrinho e Tenente-quartel-mestre Alferes José de Abreu Sampaio Filho, capitão cirurgião o Dr. José Botelho Velloso. A 1ª Companhia ficava a cargo do capitão Daniel Baptista de Oliveira e do Tenente José Martins Guimarães, tendo também os alferes Joaquim Gomes de Pinho e Martins Ambruster. Na 2ª Companhia o capitão era o tenente Olegário de Abreu Ferraz, o tenente Leopoldo Augusto de Camargo, os alferes Leandro Castellar e José Ramalho de Siqueira. A 3ª Companhia era composta do Capitão Joaquim Ferraz da Silva, do Tenente Manoel de Toledo Rodovalho e dos alferes Carlos Reynaldo Busch e Lourenço de Oliveira Campos. A 4ª Companhia era composta do capitão Francisco Sergio de Toledo, do tenente Christiano Guilherme Kuhl e dos alferes João Batista de Mello e Ezequiel Ferraz Pacheco.
Segundo José Iran Ribeiro, em seu livro “Quando o Serviço nos Chama, Os Milicianos e os Guardas Nacionais Gaúchos (1825-1845)”, PUCRS, Porto Alegre, 2001, “os membros da Guarda Nacional eram recrutados entre os cidadãos eleitores e seus filhos, com renda anual superior a 200 mil réis nas grandes cidades, e 100 mil réis nas demais regiões. Esses indivíduos não exerciam profissionalmente a atividade militar, mas, depois de qualificados como guardas nacionais, passavam a fazer parte do serviço ordinário ou da reserva da instituição.A Guarda Nacional tinha forte base municipal e alto grau de politização.
A sua organização se baseava nas elites políticas locais, pois eram elas que formavam ou dirigiam o Corpo de Guardas. Como uma instituição de caráter civil, a Guarda Nacional era subordinada aos juízes de paz, aos juízes criminais, aos presidentes de província e ao Ministro da Justiça, sendo somente essas autoridades que podiam requisitar seus serviços.” A instituição foi extinta em 1918, mas os seus membros mantiveram seus títulos e foram conhecidos por eles.
La Farina foi aluno do Colégio Culto à Ciência de Campinas, nasceu Giuseppe (nome aportuguesado depois para José) em 1861 e faleceu em 1905, conforme comprova a publicação. Segue abaixo a foto dele:
Outras referências do período são registros de Clementina e Cândida Cruz, moradoras de Cordeiro em 1906. A primeira publicou um texto breve dizendo: “O que em nós é amor, no homem é simplesmente amizade. Por isso jamais poderemos experimentar aquele sentimento que eles denominam amor.”
A segunda publicou um trecho dedicado a Alice Corrêa, falando que “Viver sem amar é vegetar entre os acúleos da vida: é atravessar a existência pelos centros tenebrosos da dor” e outro um pouco maior, “pedindo” que “se vires morta algum dia, abre com todo jeito o meu coração” (...). Neste mesmo ano, foi premiado o Sr. João da Silva Bocayuva, morador da “Estação de Cordeiros (linha Paulista)” com 20$000 reis. São personagens que não se integraram na sociedade local e cujo paradeiro de suas famílias é desconhecido.
Em 1907 é citada pela revista Maria Picanço, não se sabe nome ou pseudônimo, que residia em Cordeiro, da qual foi publicada uma quadrinha poética de sua autoria. Nos anos seguintes (1908-1909) existem duas referências a Bemvinda de Paula, que publicou trecho em homenagem a Annita Cruz e depois outro ressaltando que não poderíamos “empolgar a alma pelo desânimo enquanto luzir (...) a luz da (...) esperança.”
O destaque deste período é a foto da Fazenda Santa Maria, que depois se transformou em um bairro rural de Cordeirópolis, devido à divisão de suas terras. Tomamos contato com diversas escrituras, em pesquisas realizadas na década de 1990, do parcelamento da propriedade, que foi retratada na foto abaixo, da revista de 1907:
Confirmam-se nesta foto, dados já conhecidos desde o século passado, mas que agora receberam um acréscimo visual: os proprietários, a família Rolim de Oliveira; o agrimensor AntonioViotti, o vendedor, Benedicto Rolim de Oliveira, e um dos compradores, João Andrade. A legenda indicava que “se inicia no Estado (...) o retalhamento do solo em pequenas parcelas que serão amanhã pequenos núcleos (...), porém grandes na produção”, considerando a iniciativa a “democracia agrícola que começa a se manifestar no Estado”. A medida foi tomada em uma das crises de preços do café para exportação.
Outro vestígio interessante é a existência, durante os primeiros anos do século XX, de um jornal chamado “O Filhote”, editado em Cordeiro, que soma-se aos já conhecidos “O Martello”, retratado em um calendário que fizemos em 2015, “O Gavião”, conhecido há muito tempo e finalmente registrado no jornal “Getulino” de Campinas e “O Cordeirense”, conforme já abordamos em outras oportunidades.
Abaixo consta o recorte do registro:
Outro registro relacionado a Cordeiro, e que já estava disponível em um site sobre as estações ferroviárias de São Paulo e do Brasil, é a da edição de 1916, onde estão retratados alguns empregados da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF), como vimos, sem qualquer ligação com as famílias que moravam no então distrito. Veja a imagem:
Neste momento a estação ainda era a original de 1878, sem a reforma que foi realizada há aproximadamente cem anos.
Este artigo teve por objetivo destacar a recuperação de informações sobre Cordeiro em um dos periódicos arquivados e digitalizados pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, bem como reproduzir algumas fotos de pessoas que passaram pela cidade e deixaram a sua marca, mas não estavam integrados na sociedade e não deixaram descendentes por aqui.