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 O Distrito de Cordeiro há cem anos através de um texto anônimo (1922-1925) - Portal Cordero Virtual

O Distrito de Cordeiro há cem anos através de um texto anônimo (1922-1925)

23/03/2023 10:13:28
Chegou até minhas mãos através da Sra. Lourdes Lucke a cópia de um texto datilografado, sem autoria conhecida, que se intitula “Cordeiro de 1922 a 1925”. Provavelmente se trata de um conjunto de legendas a uma foto ou desenho que deveria retratar a localidade naquele período. Para analisar a conexão das informações com as nossas pesquisas e destacar novas informações, iremos transcrever e comentar o que for possível em relação ao documento. 

 A primeira frase, numerada “01”, descrevia a Praça da Matriz naquele período: “dolorosamente abandonada, com sulcos feitos pela enxurrada. Serviu algumas vezes para exibição de fogos de artifício e em todas as festas de cunho religioso ali era ouvido fogos de estampido. Em frente à igreja aos domingos e dias santos de guarda fazia-se o recreio à noite.”

Esta frase é bastante pertinente, pois, através das informações que conseguimos em nossas pesquisas nos últimos 30 anos, a Praça (ou Largo) da Matriz somente mereceu destaque logo no início da povoação, em 1887, quando os moradores do local requereram do Governo do Estado autorização para ocupação daquilo que se transformou depois na Praça João Pessoa e, a partir de 1970, em Praça Comendador Jamil Abrahão Saad. 

A situação de cem anos atrás representava o que se desconfiava: pertencendo ao Município de Limeira, o Distrito de Cordeiro não recebia da sede os cuidados que merecia. Provavelmente a arrecadação de impostos não era relevante, mas de acordo com a imprensa estadual do período, Cordeiro era um dos distritos que teriam condições de se transformar em Município devido à arrecadação, proporcionalmente alta devido às atividades da S.A. Indústria de Seda Nacional, que, prometendo a instalação de uma tecelagem, somente concedeu ao local a região das Amoreiras, que cultivava estas plantas para produção dos casulos do bicho-da-seda. 

O número 2 da relação fala simplesmente em “Igreja Matriz”. Conforme insistimos há muito tempo, a cidade tem origem na construção da Igreja de Santo Antonio, iniciada em 9 de março de 1886, conforme reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” do dia 14 deste mês, refletida na imprensa do Rio de Janeiro no dia seguinte. 

Após a criação do Distrito de Paz de Cordeiro, que significava a abertura de um cartório de notas e registro civil, além de um sistema de conciliação através de um juiz de paz, a Diocese de São Paulo, responsável à época pela localidade, autoriza, em 7 de março de 1901 a criação da Paróquia de Santo Antonio, o que significava o reconhecimento do crescimento do local, bem como a reserva de seus recursos para a própria comunidade.

O item 3 descreve o “adro da Igreja”, no qual se realizavam leilões e, quando permitido, cantavam-se jogos de dados, roleta, buso, etc. Não consegui com certeza determinar o que seria este jogo de “buso”, mesmo que possa ser assimilado à palavra búzios, o que parece inadequado. Segundo um material disponível na internet sobre o folclore da região sul, o jogo de buso exige 67 sementes de fava ou de feijão branco, tinta guache e pincel e um pote com tampa para armazenar as sementes. Dessas 67, somente sete deveriam ser pintadas com uma cor, seca a tinta, seriam guardadas neste pote. 

Para jogar, o pote deveria ser aberto, despejando-se todas as sementes numa superfície lisa, para que se encontrem as sementes pintadas. As que ficassem no pote serviriam de “banca”. Cada jogador lançaria as sementes parcialmente pintadas como dados, e a quantidade que caísse com a face para cima definiria a quantidade de sementes sem pintura que deveriam ser retiradas da banca. O jogo terminava quando as peças da banca acabassem e venceria quem tivesse acumulado o maior número de sementes sem pintura. 

Continua o texto sem autoria dizendo que ao lado, em direção ao fundo da igreja, suportado por grosas vigotas, de uns quatro metros de alto, funcionava o campanário de dois sinos. Estes detalhes não constam das memórias coligidas por Mario Zocchio Pasotto sobre a Paróquia de Santo Antonio de Cordeirópolis, destacando-se somente a construção da torre em 1935, conforme placa inaugural afixada naquele período. Informação bastante relevante, dada a falta de acesso à documentação da Igreja Católica de Limeira ou Campinas referente a Cordeiro ou os próprios jornais de Limeira e Rio Claro deste período.  

O item 4 da relação cita simplesmente “Residência de Barone”. Esta família, proveniente de Campinas, foi proprietária de uma das fábricas de fogos instaladas no entorno da povoação, transformando o local em um barril de pólvora permanente, que testemunhou muitas explosões, algumas registradas pela imprensa da Capital e outras que constam do próprio texto, conforme veremos abaixo.
 
Documentação preservada na Câmara Municipal de Limeira mostra um abaixo-assinado dos moradores pedindo providências devido ao risco causado por estas indústrias. Em nossas pesquisas, encontramos indícios da presença destas fábricas na região próxima à Rua José Moreira, até a Rodovia Washington Luiz, que só começou a ser aberta em 1952. 

O item 5 destaca “pracinha na qual se comemorava o 13 de Maio com grande destaque com a dança da “imbigada” (ou umbigada), ao som de zabumba e pandeiro, dentre outros instrumentos. A existência deste festejo foi confirmada pelas memórias de antigos moradores, e representava a expressão da cultura negra na cidade, minoria em relação aos habitantes, descendentes de imigrantes de diversas nacionalidades, como portugueses, alemães, italianos, austríacos, libaneses, espanhóis, etc. 

É bastante relevante que a praça que atualmente se chama Francisco Orlando Stocco desde 1972 tenha, a partir de 1890, se chamado “Antonio Bento”, homenageando o advogado que, através dos caifases, libertava os negros da região, encaminhando-os para o Quilombo do Jabaquara, em Santos, antes que chegasse a Abolição da Escravatura. 
O item 6 do texto cita a “fábrica de fogos Barone” destacando que em 1922 a seção de “escorvamento” de bombas pegou fogo. Segundo o autor anônimo, o escorvamento seria furar e tapar este orifício com pólvora úmida e “embora o estilete fosse mergulhado em sebo, o atrito com este poderia causar explosões, como de fato aconteceu, causando a morte de um menino chamado Mário”. 

O item 7 fala do “campo de futebol do Brasil”, que se impunha por seus valores. Foi encontrada uma única referência sobre este time, mas não se sabe quem eram os membros, nem durante quanto tempo disputou. Não se sabe se as pessoas envolvidas na troca do nome do antigo clube Marianos em para Brasil Atlético Clube em 1958 tinham conhecimento desta agremiação há mais de trinta anos antes de sua transformação.

O item 8 fala da “sede da Banda de Música”, a qual precisaria ser verificada com relação às presenças nos diversos eventos e inaugurações do período. Segundo o escritor anônimo, ao lado era a residência de Luiz Alvarenga Freire, “guarda-livros” (ou seja, contador) da Fábrica de Fogos Alvarenga, uma das que comprovadamente existiram no local naquele período. 

O fato da memória do autor anônimo destaca que este Luiz Alvarenga Freire, em algum momento, acompanhou o Sr. Barone em um carro guiado por uma pessoa chamada Sotero, até Tatu, um bairro pertencente a Limeira, para ver o resultado do incêndio de outra fábrica de fogos da família Barone. 

Segundo ele, o começo da viagem foi ao anoitecer, e na altura da Fazenda Ibicaba, havia uma valeta recém-aberta que estava sinalizada com um facho de luz de advertência, mas que apagou. Com a chuva que estava ocorrendo, o carro caiu na valeta e isso teria causado a morte instantânea deste Luiz. É um fato que precisa ser comprovado com documentação de cartório ou na imprensa do período.   

O item 9 do texto cita a “alfaiataria dos Irmãos Picelli”. De fato, encontrei indícios de um destes profissionais em nossas pesquisas, especificamente nos livros do Cartório de Notas e Anexos de Cordeirópolis, em pesquisas na década de 1990, mas só teríamos mais informações caso tivéssemos condições de acessar os jornais de Limeira naquele período. 

O item 10 cita brevemente a existência de um barracão, “subsidiária” da fábrica de fogos Chinnici, um dos grandes proprietários deste período, cujas atividades foram posteriormente transferidas para a cidade de Leme. Inclusive o antigo prédio que ficava entre as Ruas 7 de Setembro e Santos Dumont, demolido e substituído por uma galeria comercial, estava em nome de uma sociedade chamada “Del Giganti & Chinnici”, cujo sócio era Mariano del Giganti. 
O item 11 mostra uma informação nunca vista em minhas pesquisas nos últimos 30 anos: a existência de uma “fábrica de capas de garrafas de Primo Sassi”. Numa pesquisa rápida, não conseguimos mais informações a não ser de que era de Limeira, e só uma busca em arquivos físicos poderia esclarecer melhor sobre ele. 

Neste local, segundo o escritor anônimo, havia também a tipografia de José Victorino, que seria também regente do “Conjunto Orquestral de Cordeiro”. Foi proprietário do jornal “O Cordeirense”, cujo exemplar de uma das edições foi preservado pelo Arquivo do Estado de São Paulo e que faleceu em 1950, após fundar jornais em diversas cidades da região. 

O item 12 fala simplesmente na “Escola Reunida” que tinha como Diretor Vicente dos Santos e os professores masculinos eram: 1º ano, Antonio [Perches] Lordello, 2º ano, Bento [Avelino] Lordello e 3º ano, Arlindo Ungaretti. Perches Lordello foi professor e diretor em Limeira, homenageado com seu nome em uma das escolas estaduais. Bento Lordello foi professor entre 1921 e 1952 em Cordeiro, vereador, Presidente da Câmara, Vice-Prefeito e Prefeito em exercício, originário de Piracicaba, onde moram seus descendentes. Arlindo Ungaretti era de Rio Claro e foi membro da Associação Comercial e Industrial local. 

As Escolas Reunidas de Cordeiro, criadas em 1913, colocaram num mesmo local as escolas que antes recebiam alunos de todas as idades em classes misturadas. Segundo a estrutura da época, as Reunidas só tinham três anos de ensino primário, sendo que o quarto deveria ser frequentado nos Grupos Escolares. No caso de Cordeiro, o Grupo Escolar foi criado em 1925 e começou a funcionar nos meses seguintes, no prédio histórico da atual Escola Municipal Coronel José Levy. 

O item 13 da relação tem uma informação relevante: um suposto mapa em que esta folha deveria representar mostraria a “Subestação da Central Elétrica Rio Claro”, onde era operador um “senhor capenga”, genro do Sr. Augusto Lucke. A energia elétrica em Cordeiro começou a funcionar em 15 de outubro de 1903, portanto há quase 120 anos, e, neste momento, não conseguimos identificar quem seria este funcionário. A Sociedade Anônima Centrais Elétricas de Rio Claro (SACERC) foi sucedida pela CESP (Centrais Elétricas de São Paulo) e depois pela concessionária denominada Elektro, no final do século passado. 

O item 14 da relação destaca o “cinematógrafo”, o cinema que existia em Cordeiro desde a década de 1910. Naquele momento, o proprietário era o Sr. Orestes de Lima, nome conhecido em nossas pesquisas e bastante familiar, sendo que este texto esclarece a sua existência. 

Segundo o texto anônimo, Lima era um violinista, que tocava na orquestra do cinema mudo. Documentação do Cartório de Registro Civil e Anexos de Cordeirópolis dava conta da estrutura do cinema, quando trocou de proprietário neste período. Deve ter durado pouco tempo, pois só na década de 1940 é que se têm indícios de um novo cinema na cidade, que durou até o início da década de 1970. 

O destaque do relatório era um zelador, chamado Arcênio, tipo popular, o qual se zangava quando incomodado pelas crianças, pois tinha a incumbência de manter a disciplina no cinema. Conforme o depoimento, ele ficava mais ou menos a dois metros da parede na qual se fixava a tela e os assentos eram dois bancos sem encosto e compridos e à direita de quem entrava, junto à parede, ficavam as frisas - um pouco mais altas do que as cadeiras da plateia, com cinco cadeiras cada uma e logo a entrada havia um botequim, e no seu teto havia lambris, onde ficavam os operadores e o projetor “de marca Baby”. 

Segundo o site do “Centro de Memória e Informação Pessoal Yuri Victorino”, de Porto Alegre, Pathé-Baby era um sistema de cinema amador destinado ao público em geral criado por Charles Pathé e lançado em 1922, que usava um filme de 9,5 mm de largura com perfurações centrais, o menor formato que existia naquela época. O Pathé-Baby era um pequeno projetor de manivela, capaz de projetar pequenos filmes condicionados num cartucho metálico, com capacidade para menos de uma dúzia de metros de película não-inflamável.

O item 15 do relatório cita “uma casa feita de taipas, soalha, coberta de telhas e abandonada”, onde as crianças brincavam de, segundo o autor anônimo, de “monzar”, ou seja, “mãos ao alto”, uma representação dos filmes de faroeste. Impressionante a referência de uma das que possivelmente fossem as primeiras construções do local, seguramente do início da povoação, e que naquele momento não tinha sido substituída por construções mais modernas. 

No item 16, citava-se a colônia da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF), com residências dos empregados. Não se sabe se são as casas da Avenida Vereador Vilson Diório ou as da Rua Siqueira Campos. Os itens 17 e 19 falam em hotéis, um quase desativado e outro em decadência, o que representava um período de crise na povoação, em que não havia tanto movimento como antigamente. Um ponto bastante interessante a ser pesquisado no futuro. 

O item 18 cita expressamente a farmácia de José Moreira, português proveniente de Santos que morou em Cordeiro durante muitos anos, até falecer na década de 1950. Na cidade casou-se com a professora Amália Malheiro, que veio de São Paulo para dar aula em uma das classes do ensino primário, voltadas para o público feminino. Ambos foram perenizados na cidade, ele com uma rua que passa por diversos bairros da cidade e ela com a denominação da primeira escola municipal de ensino fundamental, inaugurada em 1986. 

O item 20 cita a “residência do jovem Vaccari, que a pedido de Francisco Chinnici, pintou a face de Jesus para os festejos da Semana Santa”. Existe uma única referência e este Vaccari nos arquivos pesquisados, e parece que a família não ficou muito tempo na cidade, atualmente vinculada a cidades da região do ABC. Informação relevante com conexão. 

Uma curiosa referência é o item 21 que fala em uma “sala de aprendizado de danças – só para homens”. Pela data, não podemos afirmar se seria o embrião do Cordeiro Club, fundado em 1937 e que, segundo Bento Lordello em depoimento que gravamos no final do século passado, tinha um rádio onde eram tocadas músicas nos eventos dançantes do período. Conforme raro registro no site “Cordero Virtual”, se localizava inicialmente na Rua 7 de Setembro, onde atualmente é uma agência bancária, esquina com a Rua Toledo Barros. 

Os itens 22 e 23 citam profissionais técnicos da época – Giocondo Negro, encanador e funileiro, cujas informações já eram de nosso conhecimento há muito tempo. Trata-se de uma família tradicional, de origem italiana, que se deslocou para Limeira, onde ainda se encontram seus descendentes. Antonio Moreira, que era ferreiro e serralheiro, não tem mais informações que possam dar mais dados, uma vez que se trata de um nome comum, difícil de ser pesquisado com precisão. 

O item 24 cita a Residência de Jamil Abrahão – chamado de “futuro prefeito” e que pela data, provavelmente se trata do casarão que ficava em frente à Praça da Matriz, na esquina das Ruas 13 de Maio e Carlos Gomes, onde muito tempo funcionou a loja da Uardi, sua irmã. Na outra esquina, havia a residência do Sr. Augusto Lucke e antiga fábrica de cerveja, o que já é conhecida e famosa há muitos anos nas nossas pesquisas. Talvez um dos motivos de este texto estar em posse de membros da família Lucke. 

Os itens 26 e 27 citam o Cartório do Registro de Paz, ou seja do Juiz de Paz e do Registro Civil, que estava localizado na Rua Saldanha Marinho nº 1; a não ser que haja melhores fontes, este número era a propriedade situada na esquina das Ruas Saldanha Marinho e Visconde do Rio Branco, de frente para o Largo da Matriz, bem como o correio, que por muito tempo esteve no local onde está hoje o Edifício Comendador Jamil Abrahão Saad e cuja fachada foi eternizada pelo pintor Francisco Frederico Olivatto, em um quadro que está atualmente na Câmara Municipal. O item 28 fala em “bar e bilhar – único”, provavelmente na mesma praça. 

O item 29 fala do “Grupo Escolar em construção”. Fazendo uma comparação com o registro anterior, que falava das Escolas Reunidas com suas três classes masculinas, pode-se concluir que, neste período, conforme indícios e depoimentos de contemporâneos, as obras deste local estavam paradas há muito tempo e não estavam concluídas, a ponto de não haver placa de inauguração na atual Escola Municipal Coronel José Levy, as antigas Escolas Reunidas e Grupo Escolar de Cordeiro. Pelo que se sabe, a escola começou a funcionar entre 1923 e 1924. 

Os itens 30 e 31 falam da residência do Sr. Francisco Chinnici, local que precisa de mais pesquisas em nosso acervo para ser confirmado e das “subsidiárias” das fábricas de fogos deste empresário, que segundo o memorialista, onde eram fabricados fogos de baixa periculosidade, manipulados por moças. Eram as únicas atividades que ofereciam empregos na zona urbana de Cordeiro naquele período. Atividade insalubre, de alto risco, cujos acidentes geraram mortos e feridos, fato confirmado pela imprensa da Capital. 

Em outro trecho, destaca-se com o número zero a “panificadora dos Irmãos Cicolin”, empresa da qual, mesmo após quase trinta anos de pesquisas a partir do acervo do Cartório de Registro Civil e Anexos de Cordeirópolis, não conseguimos encontrar referências seguras. Informação importante, que pode ser conferida na documentação do Imposto de Indústria e Profissões do Município de Limeira, se estiver preservada. 

O item 1 fala do Armazém de Battista Stocco, atacadista e varejista, um dos mais ricos empresários da povoação. Sua residência se situava entre as ruas Carlos Gomes e José Bonifácio, onde posteriormente morou o professor Bento Avelino Lordello, principalmente após ter se casado com uma das filhas de Stocco, Maria Aparecida, cuja descendência já citamos acima. 

O item 2 fala da “relojoaria de João Gazetta”, informação inédita, pois em nossas pesquisas o profissional da área era outro. São informações que só poderão ser complementadas com documentação existente nos arquivos de Limeira, especialmente nos livros do Imposto de Indústria e Profissões. 

O item 3 da segunda relação destaca a “fábrica de fogos de Alvarenga Freire”, que, segundo o escritor, incendiou-se três vezes: no primeiro, não houve vítimas; no segundo, que foi provocado por um raio, que segundo o memorialista, atingiu um depósito com 40 mil bombas, a princípio também se julgou não haver vítimas, mas deram por falta de Ovídio, um homem afro-brasileiro de estatura mediana, casado, pai de dois filhos pequenos, que residia logo acima do armazém do Stocco. 

Segundo seu relato, alguém, passando perto da cerca que delimitava o terreno da fábrica, a cem metros das instalações, teria deparado com uma cabeça. Feita a averiguação, constatou-se ser deste Ovídio. Depois houve um terceiro incêndio, com diversas vítimas, algumas fatais e depois disto, as atividades foram encerradas.

O memorialista anônimo destaca ainda que “a explosão foi tão violenta que produziu uma cratera de quatro metros de diâmetro e um de profundidade”, explicando os perigos do processo produtivo dos fogos de artifício naquele período: boa parte dos operários levava para suas casas uma boa quantidade de mistura de clorato [de potássio – KClO4] de alta periculosidade, cujo atrito poderia causar sua combustão, levando também material para confecção de caixas e caixinhas – uma tira de papelão e outra de papel, enroladas em uma barra quadrada, que era batida para fechar o fundo e servia para receber o clorato. Em sua expressão, “Cordeiro era, portanto, um barril de pólvora”. 

O viaduto da Companhia Paulista é citado no item 4. Conforme nossas pesquisas, o viaduto foi concluído em 1916 pela empresa ferroviária, devido ao fato de ter sido atropelada uma carroça e atingido seus ocupantes, que eram vinculados à família Levy, o que motivou a construção desta obra de arte, que foi complementada em 2006 por um novo viaduto, recentemente reformado pela companhia ferroviária Rumo Logística, para permitir o tráfego de composições com vagões de dois andares. 

O item 5 cita a Fecularia Pereira, destacando a marca Zuleikary, nome dos filhos do proprietário, Joaquim Manoel Pereira, líder político, casado com a irmã do Coronel José Levy, proprietário da Fazenda Ibicaba entre 1890 e 1933. O item 6 fala do “tanque margeando a Estrada de Ferro – Ramal de Descalvado” que atualmente é utilizado por uma empresa de papel, sediada na Avenida Vereador Vilson Diório, próximo à antiga linha ferroviária. O item 7 fala da estação ferroviária, atualmente em ruinas, sem perspectiva de restauração. 

O item 8 se refere à Fábrica de Fogos de Francisco Chinnici, situada na mesma avenida, em trecho pertencente à estrada denominada “Ramal de Rio Claro”, que ligava esta cidade à Estrada São Paulo-Minas, posteriormente chamada de Rodovia Anhanguera. Posteriormente se instalou uma fábrica de papel e cartolina e depois de papelão, onde está desde 1952. 

O item 9 fala da chácara de Arcangelo Calderaro, esclarecendo a localização que era imprecisa nos documentos do Cartório de Registro Civil e Anexos de Cordeirópolis, conforme nossas pesquisas no final da década de 1990. Segundo o relato, ali havia uma fábrica de aguardente, também chamada de pinga ou cachaça. Destaca-se sua referência a “mata-bicho”, que é uma dose de bebida alcoólica tomada em jejum. 

O item 10 destaca a residência do Capitão Joaquim Manoel Pereira, líder do Partido Republicano Paulista, que ficava na Vila Nossa Senhora Aparecida. Em 1939, Pereira loteou um alqueire de sua propriedade à margem do Ramal de Rio Claro (atual Rodovia Constante Peruchi) para a criação da Vila Pereira. As ruas tinham o nome dele mesmo, de sua mulher, Lídia, e de seus filhos, Ary e Zuleika. Posteriormente, a Rua Joaquim Manoel Pereira foi incorporada pela indústria de papel e papelão situada ao lado do loteamento, tornando-se sua propriedade.

Supõe-se que o texto servia de legenda a algum tipo de mapa ou ilustração, pois no seus títulos se destaca – números de fundo branco – para os item 1 a 31 da relação. Esperamos encontrar no futuro informações para conectar estes dados ou ainda a parte figurativa que complete a exposição, bem como o nome do autor. Enquanto isso, só nos resta agradecer à cessão da cópia, que permitiu que fizéssemos este importante artigo. 

Este artigo representa nossa homenagem aos 139 anos da edição da Lei de criação dos Núcleos Coloniais no Estado de São Paulo, que permitiu a criação do Bairro do Cascalho; aos 137 anos da fundação da cidade por Manoel Barbosa Guimarães, com a construção da capela; aos 133 anos do retorno das povoações de Cordeiro e Cascalho ao Município de Limeira; aos 122 anos da criação da Paróquia de Santo Antonio; aos 75 anos do início do movimento de emancipação e aos 74 anos da eleição e posse do primeiro prefeito de Cordeirópolis, datas históricas importantes, ocorridas no mês de março.
 Revivendo História - Portal Cordero Virtual
Revivendo História
Por: Paulo César Tamiazo - Historiador - MTE nº 713/SP
Revivendo a Historia publica artigos periódicos sobre os mais variados temas da História de Cordeirópolis - https://orcid.org/0000-0003-2632-6546
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